(Hoje é o Dia do Filme de Terror, e que data melhor para explorar uma das ideias mais contraintuitivas da psicologia pop: a de que filmes de terror podem, na verdade, ser bons para quem sofre de depressão e ansiedade.)
Uma teoria que circula diz que, quando se está deprimido, o cérebro precisa ser "chocado" para fora desse estado, e um bom jump scare faria o serviço.
Mas será que é assim que funciona? A realidade é um pouco mais complexa e muito mais interessante.
O "Mito" do Choque vs. A Realidade da Distração
Embora a ideia de um "choque" elétrico na mente seja dramática, a pesquisa aponta para um mecanismo diferente: a distração total.
Pense nisso. Quando você está assistindo a um filme de terror eficaz, você não está passivo; você está ativo. Você está procurando pistas, antecipando o perigo e seu corpo está em estado de alerta. Psicologicamente, isso é chamado de "estado de fluxo" (ou flow).
Para quem sofre de ansiedade ou depressão, o cérebro muitas vezes fica preso em um "loop" de pensamentos negativos ou preocupações (ruminação). Um filme de terror de alta intensidade exige tanta atenção do seu cérebro que ele simplesmente não tem recursos cognitivos sobrando para manter esse loop negativo.
Em suma: É difícil se preocupar com seus e-mails de trabalho quando você está ocupado se preocupando com o monstro no porão.
Terapia de Exposição no Sofá de Casa
O segundo fator é fisiológico. Filmes de terror são projetados para sequestrar sua resposta de "luta ou fuga". Seu coração bate mais rápido, sua respiração fica curta e a adrenalina inunda seu sistema.
Em um cenário da vida real, isso é pânico. Mas no cinema (ou na sua sala), acontece algo crucial: uma parte do seu cérebro racional sabe que você não está em perigo real.
Você está, essencialmente, praticando. Você experimenta os sintomas físicos da ansiedade intensa, mas em um ambiente 100% seguro. Quando o filme termina e o vilão é derrotado (ou você simplesmente desliga a TV), seu corpo relaxa, liberando endorfinas e proporcionando uma sensação de alívio e realização. É uma forma de dizer ao seu cérebro: "Viu? Passamos por esse estresse e sobrevivemos."
O Alerta Importante: Não é Para Todos
Aqui está o "porém" que não pode ser ignorado. Esta teoria não se aplica a todos e o terror não é, de forma alguma, um substituto para a terapia.
Para pessoas com Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), fobias específicas ou certos transtornos de ansiedade, o terror pode ser um gatilho perigoso. Em vez de uma exposição controlada, o filme pode parecer real demais, reforçando o trauma em vez de aliviá-lo.
A regra de ouro é simples: se filmes de terror fazem você se sentir pior, mais ansioso ou com medo duradouro, eles não são para você. E tudo bem.
Conclusão
Se você é do tipo que se sente estranhamente "leve", calmo ou até energizado depois de uma maratona de terror, você não está louco. Você pode estar usando uma ferramenta poderosa de distração e recalibrando sua resposta ao estresse.
Portanto, neste Dia do Filme de Terror, se você curte o gênero, aproveite. Você pode estar fazendo mais pela sua mente do que imagina.
